fazer tricô

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Comigo acontecia a mesma coisa: a melhor maneira de meditar, de entrar em contacto com a luz, era a fazer tricô – que a minha mãe me insinara quando eu era criança. Sabia contar os pontos, mexer as agulhas, criar belas coisas através da repetição e da harmonia. Um dia, o meu protetor pediu-me para tricotar de uma maneira completamente irracional! Algo muito violento para mim, que tinha aprendido o trabalho com carinho, paciência e dedicação. Mesmo assim, ele insistiu que eu fizesse um péssimo trabalho.
Durante duas horas achei aquilo ridículo, absurdo, a minha cabeça doía-me, mas não podia deixar que as agulhas guiassem as milhas mãos. Qualquer um de nós é capaz de fazer alguma coisa errada, porque é que estava a pedir isto? Porque conhecia a minha obsessão pela geometria e pelas coisas perfeitas.
E, de repente, aconteceu; parei as agulhas, senti um vazio imenso, que foi preenchido pour uma presença cálida, amorosa, companheira. À minha volta, tudo estava diferente, e senti vontade de dizer coisas que nunca ousaria no meu estado normal. Mas não perdi a consciência, sabia que era eu própia, embora, aceitemos o paradoxo, não fosse a pessoa com quem estivesse acostumada a conviver.

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Paolo Coelho, A bruxa de Portobello

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